AVENTURA
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Mochilão na Patagônia: Ushuaia

17 de julho de 2018
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Mochilão na Patagônia: Ushuaia

Quando um convite despretensioso une três pessoas com o mesmo intuito: conhecer o mundo! Só me resta relatar sobre o Mochilão na Patagônia: Ushuaia que fizemos no verão de 2017.

Por ter sido nossa primeira viagem internacional, entre outras tantas primeiras experiências, resolvi escrever sobre a percepção de tudo o que fizemos no Ushuaia, minha, da Andreza e do Wanderson.

Dia 01: chegamos no Ushuaia!

O impacto com o clima foi imediato. Ao sair avião, o corrimão gelado e o comissário rindo quando percebeu meu susto com a ventania, são inesquecíveis. De fato, chegamos em solo patagônico.

No instante que fizemos check-in no hostel, nos perguntaram quais seriam os nossos planos por lá?! E o espanhol ligeiro da dona do hostel , já nos direcionava para quais lugares não poderíamos deixar de conhecer!

Antes mesmo de subirmos para o quarto, ela nos deu um mapa e juntos montamos um roteiro. Marcamos todos os pontos, com horários de entrada e saída, quando e como fazer. Apesar de termos feito um pré roteiro, que não estava 100% definido, optamos por conhecer todos os locais gratuitos primeiro (sugestão dela), além do passeio do Canal de Beagle que já havíamos comprado no Brasil.

Depois de nos acomodarmos, colocamos roupas adequadas para suportar o frio de zero graus, com sensação térmica negativa e fomos conhecer a cidade. Passeamos pela San Martín, avenida principal de comércio e turistas, fomos na placa do “fin del mundo”, conhecemos uma parte da orla do Canal de Beagle e carimbamos nossos passaportes na Secretaria de Turismo!

   

Dia 02: navegação no Canal de Beagle

Depois de almoçarmos no hostel, embarcamos no catamarã que nos levaria para o passeio. Durante todo o percurso, um guia dava informações sobre os pontos de parada.
Passamos por algumas ilhotas: a dos Cormoranes, pássaros bem parecidos com pinguins e dos lobos-marinho. Em um momento da viagem, o catamarã faz uma parada na Ilha Bridges, onde descemos e caminhamos. Ao retornar, damos a volta no Farol Les Eclaireurs, mais conhecido como “Farol do Fim do Mundo”. Como o dia estava nublado, chuvoso e o silêncio tomava conta, o ar de melancolia bateu! haha
Voltamos em terra e aproveitamos para andar margeando o Canal de Beagle ao norte, onde acabamos conhecendo um comércio local e fizemos o abastecimento da comida que iríamos cozinhar no hostel nos próximos dias.

  

Dia 03: Laguna Esmeralda e “Fuego, Fuego, Fuego!”

Finalmente colocaríamos em prática o planejamento arranjado na chegada ao hostel. 
Em direção à Laguna Esmeralda, pegamos um transfer, que custou ARS $350 por pessoa, ida e volta.
A trilha é fácil, autoguiada, indicada com bandeiras e setas ao longo do caminho, gratuita e sempre com alguém cruzando o caminho, então, quase nunca você fica “sozinho”.

O trajeto até o topo da montanha é incrível. Cruzamos mata fechada, barreira de castores, passamos pelo solo fofo da turfa e chegamos na Laguna. Ficamos boquiabertos com a cor da água e com a paisagem. Os raios de sol entre nuvens, batia na água e refletiam vários tons de verde, um convite para sentarmos, tirarmos o lanche da mochila e comer ali mesmo, admirando. Voltamos para a trilha e todo o trajeto, entre subir, ficar lá em cima e descer, fizemos em aproximadamente 8 horas.

Chegamos no hostel e decidimos andar mais, afinal, não é todo dia que temos sol até as 23h30, não é mesmo? Fomos andando na baía, sentido oeste, com um pôr do sol incrível! Certo momento percebemos uma aglomeração de pessoas, em frente um centro esportivo. Como as portas estavam abertas e aparentemente não tinha ninguém cobrando a entrada, entramos! haha

Era um jogo de futebol de salão, provavelmente alguma final, pela euforia da torcida. Só entramos, ficamos, torcemos e ganhamos! hahahaha “Fuego, Fuego, Fuego!!” Foi incrível e sem dúvida, uma experiência totalmente inesperada que tivemos durante o Mochilão na Patagônia.

   

Dia 04: Laguna de Los Tempanos e Glaciar Vinciguerra

Pegamos um remis e fomos para a Laguna de Los Tempanos. A trilha começou e logo estávamos subindo. Outra trilha sinalizada, autoguiada e gratuita. Atravessamos riachos, enfiamos o pé na lama, pulamos troncos caídos e enfrentamos a subida final, com solo irregular cheio de pedregulhos e muito vento! No caminho, cruzamos com um guia que nos disse estar uma sensação térmica de -5° lá em cima.

Chegamos no topo. Que topo! Que cenário! Que Laguna! Que montanha! Que friaca!
Avistamos a Laguna e o sorriso tomou conta! Os olhos brilharam e a vontade de sair pulando foi maior! Um falava por cima do outro, todos esbaforidos, admirando a dimensão e força daquele lugar!

Margeando a Laguna para chegar do outro lado, na caverna do Glaciar Vinciguerra, tivemos nosso primeiro contato com neve. Pegamos, jogamos um no outro e obviamente teve um boneco de neve!!
Todo o trajeto, fizemos em 10 horas. Poderia ser em menos tempo, mas preferimos aproveitar o máximo possível daquele lugar! Gastamos apenas ARS $350 com o remis e dividimos entre nós!

Uma das regras do hostel era: “proibido usar a cozinha a partir das 20h!”. Retornamos da Laguna, por volta das 21h e para nossa surpresa, as donas do hostel prepararam uma travessa enorme de macarrão para nós! Resolveram presentear “os brasileiros forasteiros” com o jantar, pois não voltaríamos a tempo de preparar. Sem dúvidas, nosso coração encheu de carinho e nos sentimos acolhidos.

   

Dia 05: último dia!

No nosso último dia no Ushuaia, estávamos com o plano de visitar o Glaciar Martial e bater perna na cidade. Quando contamos isso para a Ana (dona do hostel), ela disse que valeria a pena subir no glaciar para ver o panorama da cidade no pôr-do-sol (por volta das 23h). Então, passamos o dia andando, conhecemos o outro lado da cidade, onde a população local mora, onde é possível ter uma vista panorâmica geral do Ushuaia, na base da montanha.

Por volta das 22h chamamos um remis, que cobrou ARS $270 e fomos para o glaciar. Chegando lá, o tempo que estava aberto e ensolarado, fechou e começou a ventar muito forte, subimos até a base de esqui (que só funciona no inverno) para ver o panorama da cidade e para nossa surpresa, começou a nevar forte. Não teve pôr-do-sol, mas teve neve!! Pegamos um cajado e fomos morro acima, não havia mais ninguém, só nós estávamos lá.

Com a neve apertando, o vento batendo e nos empurrando, os flocos queimando as partes do corpo que estavam expostas, chegamos em um ponto onde tudo ficou branco! A neve era tão forte, que não dava para enxergar mais nada, o medo bateu e como não somos tão experientes, resolvemos voltar! Ficamos um tempo na base de esqui, sentados, só observando e absorvendo toda aquela experiência.

   

Era nossa última noite por lá! Tudo já estava organizado para partirmos no dia seguinte, rumo ao Chile e continuar o Mochilão na Patagônia. Começamos pelo Ushuaia e fomos subindo, passando por Punta Arenas, Puerto Natales, Paque Nacional Torres del Paine no Chile e finalizamos em El Calafate, na Argentina.

Considerações e dicas sobre o Ushuaia:

– Tem muitos lugares para conhecer!! Como optamos por ir nos atrativos gratuitos primeiro, não sobrou tempo de conhecer tudo. Ficamos cinco dias, mas o ideal seriam sete, pelo menos;

– Para comer, fizemos compras no mercado e montamos alguns lanches e frutas para levar nas trilhas, jantamos no hostel e economizamos um pouco, pois os restaurantes não são baratos;

– A água engarrafada, em geral, não é boa, é densa e pesada! Mas mesmo assim, compramos um garrafão de 6 litros e enchemos as garrafas menores, pois “gente hidratada, é gente feliz”. Durante as trilhas, enchemos as garrafas com a água do rio, pois é muito melhor;

– Venta muito, o tempo todo! Andar com a jaqueta corta-vento é indispensável. Apesar de ser bem frio, não precisamos de super casacos para nos aquecermos, mas sempre usamos três camadas de roupas: segunda pele térmica + moletom ou jaqueta + corta-vento. Funcionou durante todo o Mochilão na Patagônia, não só no Ushuaia;

– Não tenha receio de desbravar, andar na rua a noite, conhecer lugares fora da rota de turismo, conversar com as pessoas locais, seja ela do hostel, um motorista, ou o caixa do supermercado, vai valer a pena!

– Outra coisa não menos importante é dar atenção para todos os perros (cachorros) que cruzarem seu caminho, são todos tão dóceis e gigantes, que dá vontade de colocar na mochila e trazer para casa;

Como foi nosso primeiro mochilão, tive a sensação de que colocar a mochila nas costas, nos tornou empoderados, queríamos saber o que tinha lá na frente, perdemos a vergonha na cara, passamos a valorizar as pequenas coisas ou momentos e a desapegar de tantas outras desnecessárias.

Sem dúvidas ficamos muito orgulhosos pelo Mochilão na Patagônia ser nossa primeira viagem internacional e tudo ter sido feito com sucesso, alegria e muitas lembranças. O simples nos fez feliz!!

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Débora Marques

Arquiteta, forasteira, 26 anos, paulistana. Com o assunto "viagem" sempre em pauta. Apaixonada por música, natureza, cidades e conhecer pessoas.

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